domingo, 10 de junho de 2012

O Vendedor

Morte e sangue. Assim o filme começa, quando vemos um animal sendo recolhido de uma rodovia, já morto. Sangue para todo lado. Logo após, uma pessoa pega uma peça e a coloca juntamente ao carro destruído.

Essa cena inicial, cortada para um momento na vida rotineira de  Marcel Léves (Gilbert Sicotte), homem com 67 anos que trabalha como vendedor de carro na congelante cidade de Lac Saint-Jean, em Quebéc, já nos deixa com a angústia, que se prolongará até meados do filme, até descobrirmos quem dirigia o carro que sofreu o acidente e o que, de fato, aconteceu.

Até termos essas respostas, seguimos os passos de Marcel, desde o seu trabalho, onde é um profissional bem sucedido, sendo considerado seguidamente o melhor vendedor da loja, até os momentos em que passa com sua filha Maryse (Nathalie Cavezzali) e seu pequeno neto Antoine (Jeremy Tessier). Marcel nasceu para o que faz e se realiza com isso. Poderia ter se aposentado, mas não o fez. Sem sua mulher, o que faria de seus dias como aposentado, ele questiona em determinado momento.

Além de sua vida, nos é mostrado certo reflexo da crise financeira mundial (ou, ao menos, um paralelo), com a falência de uma grande empresa local que deixa muitos trabalhadores desempregados e afeta, consequentemente, a vendas de carros e outros pontos da economia local. Manifestações são feitas e, por muitas vezes, o filme possui cortes pra nos informar a quantidade de dias que perdura o desemprego dessas pessoas.

Um ponto que podemos considerar importante para a trama é quando determinado personagem, ao levar seu carro para a manutenção, na loja na qual Marcel trabalha, é abordado por este pra que venda seu carro antigo e adquira um novo. Mesmo desempregado, Marcel o aconselha a seguir com essa proposta. Primeiramente hesitante, o personagem acaba aceitando.

Aqui identificamos críticas a determinadas atitudes que são habitualmente tomadas: Marcel não se importa tanto com o fato do personagem estar desempregado. Quer vender um novo carro para se manter como o melhor funcionário - talvez um medo, comum aos idosos, de se tornarem menos produtivos ou inúteis. O personagem, de forma irracional, aceita uma nova dívida, mesmo estando desempregado, numa clara falta de planejamento financeiro. Além disso, como a instituição financiadora poderia conceder crédito para a aquisição de um carro para alguém que não possui emprego?

Sempre presente, o frio da cidade acaba de tornando um personagem contínuo que depois acaba se infiltrando em Marcel, quando a tragédia chega.

O Vendedor é um filme que, infelizmente, poucas pessoas assistirão, até mesmo por sua pouca divulgação e distribuição. Possui alguns pontos que considero um pouco maçantes, principalmente na metade do filme, onde a rotina de Marcel se apodera do filme e entedia um pouco. Mas é um filme que traz algumas discussões e críticas, além de ser filmado com cuidado por Sébastian Pilote.

No final, crianças brincam de bicicleta e passam por cima de placas que eram usadas pela manifestação dos desempregados, o que poderíamos considerar como uma constatação de que a nova geração já nasce fadada às consequências da crise atual e do nosso desleixo com a economia, meio ambiente, etc.

Em cartaz no CineSESC.
 

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