Morte e sangue. Assim o filme começa, quando vemos um animal
sendo recolhido de uma rodovia, já morto. Sangue para todo lado. Logo após, uma
pessoa pega uma peça e a coloca juntamente ao carro destruído.
Essa cena inicial, cortada para um momento na vida rotineira
de Marcel Léves (Gilbert Sicotte), homem
com 67 anos que trabalha como vendedor de carro na congelante cidade de Lac
Saint-Jean, em Quebéc, já nos deixa com a angústia, que se prolongará até
meados do filme, até descobrirmos quem dirigia o carro que sofreu o acidente e
o que, de fato, aconteceu.
Até termos essas respostas, seguimos os passos de Marcel,
desde o seu trabalho, onde é um profissional bem sucedido, sendo considerado
seguidamente o melhor vendedor da loja, até os momentos em que passa com sua
filha Maryse (Nathalie Cavezzali) e seu pequeno neto Antoine (Jeremy Tessier).
Marcel nasceu para o que faz e se realiza com isso. Poderia ter se aposentado,
mas não o fez. Sem sua mulher, o que faria de seus dias como aposentado, ele
questiona em determinado momento.
Além de sua vida, nos é mostrado certo reflexo da crise
financeira mundial (ou, ao menos, um paralelo), com a falência de uma grande
empresa local que deixa muitos trabalhadores desempregados e afeta,
consequentemente, a vendas de carros e outros pontos da economia local.
Manifestações são feitas e, por muitas vezes, o filme possui cortes pra nos
informar a quantidade de dias que perdura o desemprego dessas pessoas.
Um ponto que podemos considerar importante para a trama é
quando determinado personagem, ao levar seu carro para a manutenção, na loja na
qual Marcel trabalha, é abordado por este pra que venda seu carro antigo e
adquira um novo. Mesmo desempregado, Marcel o aconselha a seguir com essa
proposta. Primeiramente hesitante, o personagem acaba aceitando.
Aqui identificamos críticas a determinadas atitudes que são
habitualmente tomadas: Marcel não se importa tanto com o fato do personagem
estar desempregado. Quer vender um novo carro para se manter como o melhor
funcionário - talvez um medo, comum aos idosos, de se tornarem menos produtivos
ou inúteis. O personagem, de forma irracional, aceita uma nova dívida, mesmo
estando desempregado, numa clara falta de planejamento financeiro. Além disso,
como a instituição financiadora poderia conceder crédito para a aquisição de um
carro para alguém que não possui emprego?
Sempre presente, o frio da cidade acaba de tornando um
personagem contínuo que depois acaba se infiltrando em Marcel, quando a
tragédia chega.
O Vendedor é um filme que, infelizmente, poucas pessoas
assistirão, até mesmo por sua pouca divulgação e distribuição. Possui alguns
pontos que considero um pouco maçantes, principalmente na metade do filme, onde
a rotina de Marcel se apodera do filme e entedia um pouco. Mas é um filme que
traz algumas discussões e críticas, além de ser filmado com cuidado por
Sébastian Pilote.
No final, crianças brincam de bicicleta e passam por cima de
placas que eram usadas pela manifestação dos desempregados, o que poderíamos
considerar como uma constatação de que a nova geração já nasce fadada às
consequências da crise atual e do nosso desleixo com a economia, meio ambiente,
etc.
Em cartaz no CineSESC.

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