Final do Masters 1000 de Roma. Por ser a trigésima partida entre esses
dois ícones do esporte – Roger Federer e Rafael Nadal, vale reportar mais esse
capítulo na história do confronto de jogadores tão espetaculares. Entretanto,
as estatísticas não sugerem um confronto parelho. Isso pois no saibro,
contabilizam-se 12 vitórias para Nadal e 2 apenas para Federer. No geral, são
19 vitórias para Nadal e 10 para Federer.
Nadal, com 26 anos e 55 título de simples, é atual número 5 do mundo – tecnicamente,
vez possa ser considerado o primeiro, pois perdeu muitas posições em
decorrência de seu afastamento do circuito para tratar de seus problemas
crônicas no joelho. Tem 23 títulos de Masters 1000, sendo o maior ganhador de
torneio. Só em Roma foram 6 campeonatos.
Federer, por sua vez, com 31 anos e 76 títulos de simples, é considerado
o melhor tenista da história – sim, ele foi, mas não é mais. Faz sua primeira
final do ano. Atual número 3 do mundo. Tem 21 títulos de Masters e nunca foi campeão
em Roma, tendo feito 3 finais, uma, inclusive, épica, contra Nadal em 2006,
tendo perdido apenas no quinto set, após ter desperdiçado dois match-points.
Roger até agora não perdeu nenhum set na competição e teve jogos mais
fáceis que Nadal. Será que está “babando” mesmo por esse título?
Dia de muito sol em Roma. Quadra Central. Nadal e seus tiques irritantes
(ajuste da cueca, do cabelo e do nariz). O ace de Federer no primeiro ponto e o
voleio do segundo sugerem um domínio do suíço? Primeiro game do Federer, com a
ótima sugestão do saque e voleio, o que facilita muito o jogo para o Federer.
Trocar bolas de fundo de quadra é suicídio frente a Nadal. Para quem acompanhou
todos os 29 jogos entre os 2, sabe que Federer só tem chances contra o espanhol
quando encaixa bem o voleio e drop shots.
Após confirmar seu serviço, Nadal consegue a quebra do saque de Federer
com extrema facilidade no game seguinte, contando com um erro não forçado no break point.
Incrível, mas se fosse com qualquer outro jogador, Federer teria tido,
provavelmente, uma outra atitude em um ponto tão importante.
No game de “confirmação da quebra”, quatro erros do Federer e
confirmação do serviço do Nadal, o que demonstra incrível instabilidade mental
do suíço. A rede é sua principal inimiga, às vezes. Sabe que suas bolas tem que
ser baixas e rápidas para diminuir o tempo de reação de Nadal, mas sua
ansiedade e afobação o atrapalham muito. E quando suas bolas não param na rede,
acabam sendo fundas demais e saem da quadra. Falta uma dosagem correta.
Já Nadal é um muro de concreto. Por ele nada passa e seu emocional é o
mais forte da história do tênis. Suas bolas fundas no revés (esquerda) de
Federer são o veneno que há anos funciona contra o suíço, sem que ele encontre
muitas respostas concretas.
4-1 Nadal. 21 minutos de jogo, duas quebras e um set praticamente
decidido. Nesse momento, com o seu jogo habitual, não há como Federer ganhar o
jogo. Nadal criou uma zona de conforto intransponível por Roger, que sequer
força algo diferente. Continua com erros não forçados, enquanto Nadal aposta
sempre em seus balões de fundo de quadra para desestabilizar e, então,
encaminhar o winner na jogada seguinte.
5-1 Nadal. 30-30, mais um erro não forçado de Federer. Set Point para o Nadal. Federer
aposta em um voleio pífio, que vai longe. 6-1 para o Nadal em 23 minutos
apenas. Muito mais por medo e ansiedade do que por uma surra, Federer perde o
set de forma vergonhosa.
Com 15 erros não forçados de Federer, ele deu ao Nadal praticamente dois
terços dos pontos ganhos pelo espanhol. Federer não insistiu no saque e voleio
que lhe valeu o seu único game na partida até agora e isso tem sido uma péssima
escolha.
Segundo set. 0-30 Federer. Bons ataques lhe renderam uma expectativa que
foi abortada com um voleio mal executado e um erro na devolução. 30 iguais. Com
o segundo erro não forçado de Nadal no game, surge a primeira chance de quebra
de Federer no jogo, revertida com um ótimo saque aberto de Nadal, que sabe se
livrar dessas situações como ninguém. Roger alterna poucos winners espetaculares com muitos erros pífios. Isso rende o game
para Nadal, que controla tudo do funda da quadra com amplo domínio.
Onde estariam os drop shots e
os voleios de Federer para fazerem o adversário sair da sua zona de conforto?
Não existem.
14-40 para Nadal. Diferentemente de Federer, Rafael agarra suas chances
com tudo que possui. Quebra o saque com uma pancada firme, contabilizando mais
uma passada sensacional. 2-0 Nadal e o jogo vai se encaminhando para o fim, em
um jogo totalmente apático de Federer.
Nadal faz 3-0, ganhando seu game de zero e três erros não forçados de
Federer. Não temos sequer 40 minutos de jogo ainda.
No game seguinte, Federer, nitidamente envergonhado, melhora seu jogo
para tentar evitar um pneu (6-0). Após muito tentar, conseguiu um game como
muito esforço. Até agora, entretanto, Nadal ganhou o dobro de pontos de Federer
no jogo.
Nadal conseguiu abrir 4-1, mesmo tendo cometido uma dupla falta e ter
visto um
approach esquisito, porém
eficiente, de Federer, que resultou em seu
smash.
Porém, na sua última oportunidade de confirmação antes do iguais, Nadal
conseguiu um excelente ponto, mostrando seu antídoto para uma nova investida em
approach venenoso do suíço.
O ponto que define o iguais em seu próximo game de serviço é um resumo
da desconcentração de Federer. Na tentativa de drop shot, sua bola sequer chega à rede. Grotesco. Em mais um erro,
a oportunidade de break para Nadal, salva por Federer. É a primeira chance de
break não concretizada por Nadal no jogo.
Depois de conquistar mais uma chance de break, vem um dos pontos mais
sensacionais, com a quebra concretizada em uma passada do fundo de quadra,
executada de forma magistral por Nadal. 5-1.
Nadal saca para jogo e tem de enfrentar um 0-40. Federer quebra. Um sopro
de esperança para Federer?
Ele confirma seu serviço no game seguinte. 5-3. Nadal, mais uma vez, irá
sacar para o jogo. Para o 7º título em Roma. Com 2 erros não forçados de Roger,
Nadal abre 30-0. Mais uma madeirada de Federer, que está se tornando habitual,
e Nadal chega ao match point. E não o
perde. Nadal campeão em uma hora e nove minutos. Uma surra morna e básica que
culminou em sua vigésima vitória contra Federer (e apenas 10 derrotas) e no
sexto torneio ganho no ano (terceiro consecutivo).
Importante destacar que dos 59 pontos vencidos por Nadal no jogo, nada
menos que 32 foram frutos de erros não forçados de Federer, o que resume o quão
apática foi a atuação do suíço. Apenas para ilustrar, dos 36 pontos
conquistados por Federer, apenas 8 foram atribuídos de graça por Nadal. Que imensa
diferença daquela mesma final de Roma de 2006, que terminou apenas no quinto
set com vitória de Nadal.
Nadal vibra como se tivesse vencido um jogo de exibição. Os jogos que
realmente valeram pra ele neste torneio foram contra David Ferrer e Ernest
Gulbis. E ontem teríamos uma verdadeira final, caso Djokovic tivesse passado
por Berdych.
Hoje esse confronto – Nadal x Federer- não tem mais muita graça, infelizmente. Roger
já não tem a ambição de ser superior a Nadal, ainda mais na terra batida
do saibro, onde Nadal é o maior jogador de todos os tempos. Muito mais
combativo é o confronto entre Nadal x Djokovic, o qual, embora haja vantagens
também para Nadal (19 vitórias contra 15 derrotas), propiciam jogos muito mais
interessantes.