quarta-feira, 31 de julho de 2013

Marina Abramovic - The Artist is Present

Destemida e provocadora, Marina Abramovic tem redefinido o significado da arte há quase 40 anos. Fazendo uso do seu corpo enquanto veículo, desafiando os seus próprios limites – e por vezes arriscando a sua vida no processo –, ela cria performances que nos desafiam, chocam e comovem. 

Marina Abramovic: the Artist Is Present segue a artista nos preparativos do que pode ser o momento mais importante da sua vida: uma grande retrospectiva no Museum of Modern Art. 

Ter uma retrospectiva num dos mais importantes museus do mundo é das mais elevadas formas de reconhecimento. Mas, para Marina, é bem mais do que isso, é a oportunidade para, de uma vez por todas, calar a questão que ela tem ouvido repetidas vezes nas últimas quatro décadas: “Mas por que isto é arte?"

A arte contemporânea produzida por Marina é chocante, com muito uso do nu e da violência. Mas, mais do que mostrar a sua arte, o grande ponto positivo do filme é mostrar a pessoa por traz da artista, seu passado, seu presente, seus temores, seus anseios. Mesmo quem duvida se é arte ou não o que Marina produz, é impossível não notar seu impacto psicológico. 

E o filme é uma arte por trás de toda a arte maluca de Abramovic. Imperdível!


Hannah Arendt

Margarethe Von Trotta, ao lado, mais uma vez, de Barbara Sukowa, intérprete habitual de seus filmes, como os premiados "Rosa Luxemburgo"  e "Os Anos de Chumbo" se propôs ao desafio de retratar uma das pensadoras políticas mais importantes e influentes do século 20, autora de clássicos como "As Origens do Totalitarismo", Hannah Arendt.


Sem recorrer a um excesso de teorias, o roteiro escolhe como foco um episódio crucial na vida de Hannah. Em 1961, a filosofa alemã, já radicada nos EUA, viaja a Israel para acompanhar um dos julgamentos mais bombásticos de todos os tempos, do carrasco nazista Adolf Eichmann, capturado pelo serviço secreto israelense na Argentina. Seria ele um dos grandes culpados do nazismo ou simplesmente um cumpridor de ordens, um burocrata? Aqui nasce a fonte da tese de Hannah sobre a banalidade do mal.

Bem se nota que o nazismo está no centro das discussões, mas não somente ele. Há também o supostos envolvimento de autoridades judias com o nazismo - tema muito polêmico, mas inevitavelmente discutível. 

Há também, de forma menos lembrada, a questão de seu relacionamento com o mestre e ex-amante Martin Heidegger (Klaus Pohl), filósofo que se filiou ao Partido Nazista em 1933 e nunca se retratou da atitude após o fim da Segunda Guerra - para desgosto de Hannah, que era judia alemã e fugiu do país natal após a ascensão de Hitler ao poder.

Enxergando em Eichmann apenas um burocrata medíocre, como dito acima, cumpridor cego de ordens, recusando-se a ver um monstro de índole diabólica, e não se omitindo em apontar o que considerava como cumplicidade dos chamados Conselhos Judaicos na destruição de sua própria comunidade, Hannah atraiu a fúria dos próprios amigos e dos círculos judaicos. Muitos nunca a perdoaram pela ousadia. Para eles, ela estaria "defendendo" o carrasco, o que sempre negou.

Nada disso abalou a filosofa, que publicou seus artigos na "The New Yorker" - onde também sofreu pressões - e, dois anos depois, um livro que teve grande repercussão, "Eichmann em Jerusalém". 

O filme ressalta a coragem de Hannah que, apoiada por amigos como a escritora Mary McCarthy (Janet McTeer), resistiu, mantendo sua independência de pensamento, ainda que a um alto custo pessoal. 



Sem esgotar a discussão, mas, pelo contrário, alimentando-a para poder gerar posteriores discussões, o filme é, com certeza, um excelente meio de se envolver com a genialidade de Hannah Arendt e tomar partido de seus estudos e pensamentos.


Homem de Aço (Man of Steel)

A maioria dos filmes de super herói de hoje em dia escolhem o caminho psicológico de abordagem do personagem principal. Foi assim com Batman - com a quase perfeição atingida em Dark Knight -, um pouco menos com Iron Man e, agora, muito com O Homem de Aço, dirigido por Zack Snyder, um dos diretores mais renomados atualmente, muito por conta de seu trabalho estética e visualmente deslumbrante em 300.

Ao eliminar a famosa "cueca" vermelha (e cômica) do super-homem, o filme revela o seu anseio de se desprender de seus antecessores bem sucedidos. E tenta, de toda maneira, desvincular o Clark de Christopher Reeve pelo de Henry Cavill. O ator, importante destacar, mostra seu valor e não decepciona em nenhum momento, embora, é claro, não conte com o carisma inigualável de Reeve.

A película retrata a completa jornada do herói, com o bullying sofrido quando criança pelo jovem Clark, o passado mal explicado, a solidão de ser um "anormal" e o reencontro com a verdade, acompanhada de doses colossais e exageradas de lutas intermináveis contra um vilão muito bem construído por Michael Shannon - até mesmo mais ambíguo do que o protagonista.

Muito embora haja o excesso já citado das lutas do final, o filme é muito bom, com um roteiro bem idealizado. Diante dos inúmeros blockbusters lançados no ano, Man of Steel se destaca.


terça-feira, 9 de julho de 2013

Branca de Neve (Blancanieves)

Em 1920, na Espanha, Carmen (Macarena García) viveu parte de sua vida com sua terrível madrasta, Encarna (Maribel Verdú). Cansada de ser reprimida, a jovem resolve fugir de casa para viver diversas aventuras como toureira, na intenção de apagar seu passado traumático. Durante a viagem, ela recebe a ajuda de seis anões toureiros, que decidem protegê-la a todo custo.

O filme é excelente! Sim, é mudo e em preto e branco, mas convenhamos que filmes assim ainda nos cativam muito - vide "O Artista". Parece-me que os filmes mudos acabam buscando muito mais a linguagem cinematográfica plena, em vez de focar numa verborragia indiscriminada, sem limites (claro que Woody Allen é um caso a parte - sempre fui seu fã e adoro todos os seus filmes, com raríssimas exceções).

Blancanieves, dirigido por Pablo Berger (de Torremolinos 73 é uma releitura da obra clássica dos Irmãos Grimm, colocando a protagonista no âmbito das touradas espanholas, mas nada soa forçado. Maribel Verdú faz, talvez, a melhor "Bruxa Má" de todas, em atuação fascinante. Isso sem contar a fotografia e trilha sonora maravilhosas!

Um grande filme, que demorou cerca de oito anos pra ser concretizado e levou 10 prêmios Goya (o "Oscar" espanhol), inclusive o de melhor filme.


domingo, 7 de julho de 2013

A bela que dorme (Bella addormentata)

Dirigido e co-escrito pelo italiano Marco Bellocchio (de Vincere e Bom Dia, Noite), o filme retrata a história de diversas pessoas entrelaçadas pela morte de Eluana Englaro, evento real de uma garota que passou dezessete anos em estado vegetativo, até lhe ser concedido o direito à eutanásia, por conta da luta de seu pai.

Entretanto, Bellocchio afasta-se, de certa maneira, dos acontecimentos reais, usando-os como pretexto e pano de fundo para ficcionalizar e falar do que lhe interessa. Ou seja, de como o institucional (religião, política, etc.) pesa sobre a vida pessoal e vice-versa, em prejuízo da liberdade de pensamento e ação.

Há o senador que teve que lidar com a situação de desligar os aparelhos que mantinham viva a sua mulher, e que deverá votar sobre um projeto que delimita a liberdade de escolha dos familiares pela manutenção ou não de pessoas em estado vegetativo.

Há também o caso da mãe, vivida por Isabelle Huppert, que abdica da sua carreira de atriz para cuidar da filha em coma aparentemente não solucionável, bem como da mulher drogada que tenta por diversas vezes o suicídio, sempre impedida de alguma forma.

O filme, por vezes, se mostra um pouco confuso, muito por conta da variedade de situações e personagens.

Entretanto, na Mostra Internacional de São Paulo em 2012, Bellocchio venceu o prêmio de melhor filme para o júri de críticos. Em Veneza, foi premiado como revelação o ator Fabrizio Falco, que interpreta o irmão do militante Roberto, que tem problemas psicológicos e atormenta a rotina de sua família.


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Augustine

Olha, assistir um filme não muito bom com o Vincent Lindon (um dos meus atores favoritos) é um achado bem indigesto.

Augustine, o primeiro longa-metragem da diretora Alice Winocour, conta ainda com a presença de Chiara Mastroianni (mulher de Lindon tanto no filme como na vida real) e da cantora Sako. É um filme sobre os impactos do estudo da histeria na sociedade francesa do século XIX liderado pelo Professor Charcot (Lindon), especialmente com relação aos distúrbios apresentados por Augustine (Sako), a qual começa a apresentar crises violentas que ocasionam até mesmo na paralisação de partes do seu corpo.

Porém, até qual momento a realidade se torna uma farsa, e o distúrbio patológico um jogo de sedução e de desejo?

O tema ainda é interessante, embora já esteja um pouco batido, principalmente por conta da realização de filmes como "Um método perigoso", de David Cronenberg. Entretanto, um dos principais pontos negativos do longa é a sua falta de ritmo, bem como a inexpressividade da atriz Sako. Como Chiara faz apenas alguns pontas, é bem difícil para Lindon segurar o filme sozinho. Infelizmente.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Os amantes passageiros (Los amantes pasajeros)

Como já muito se disse, "Os amantes passageiros" é, talvez, o pior filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o que, digamos, é uma surpresa, haja vista que esse grande erro cinematográfico surge no momento de maturidade de sua obra. Como Pedro conseguiu realizar grandes obras como "Volver", "Abraços Partidos" e "A pele que habito", sem falar dos excepcionais "Fale com Ela" e "Tudo sobre minha mãe", e agora descambar para essa chanchada horrível?


Almodóvar usa aqui um trio de protagonistas como centro de referência de um painel mais amplo. Javier Cámara, Carlos Aceres e Raúl Arévalo são os comissários de bordo de um voo entre Madri e a Cidade do México, que precisa fazer um pouso forçado devido a um problema técnico causado na primeira parte da trama - e, talvez, a única que se salva de todo o filme, em que participam de forma relâmpago os atores almodovarianos por excelência: Penélope Cruz e Antonio Banderas. 

A situação extrema motiva confissões dos passageiros da primeira classe, tentativa de fazer emergir do caos uma nota irônica sobre a sociedade contemporânea, espanhola em particular.

Sempre há transgressão nos temas propostos por Almodóvar, mas no caso de "Os amantes ...", essa transgressão fica limitada a uma tentativa tosca de desmistificação do sexo, em particular dos homossexuais, totalmente estereotipados - teria Almodóvar visto os filmes dirigidos pela Julie Delpy ultimamente?

Enfim, Os Amantes Passageiros podia ser um retorno bem-sucedido de Almodóvar às origens (vale lembrar que o pouso forçado se dá na região de Castilla-La Mancha, onde o cineasta nasceu), porém o filme não se encontra em nenhum momento e seus pouco mais de 80 minutos tornam-se enfadonhos e difíceis de aguentar.


Guerra Mundial Z (World War Z)


Guerra Mundial Z volta com o tema dos zumbis, os quais nos bombardeiam aos montes nos filmes e seriados. Mas será que traz uma nova perspectiva? Uma nova abordagem? Um novo desafio?


Eis a storyline: uma terrível e misteriosa doença se espalha pelo mundo, transformando as pessoas em uma espécie de zumbis. A velocidade do contágio é impressionante e logo o Governo americano recruta um ex-investigador da ONU para investigar o que pode estar acontecendo e assim salvar a humanidade, tendo em vista que as previsões são as mais catastróficas possíveis. Gerry Lane (Brad Pitt) tinha optado por dedicar mais tempo a sua esposa Karen (Mireille Enos) e as filhas, mas seu amor a pátria e o desejo de salvar sua família acabam contribuindo para que ele tope a missão. Agora, ele precisa percorrer o caminho inverso da contaminação para tentar entender as causas ou, ao menos, identificar uma maneira de conter o contágio até que se descubra uma cura antes do apocalipse. Começa uma verdadeira corrida contra o tempo, que mostra-se cada vez mais curto, na medida que a população de humanos não para de diminuir.


Com cerca de 115 minutos, fiquei com a sensação de que o filme poderia ter ido um pouco mais além. Ele começar muito bem, com um ritmo frenético e movimentos de câmera incessantes, além da trilha sonora quase claustrofóbica do Muse. Brad Pitt, embora em um papel que exija menos talento do que o que ele realmente tem, não decepciona - embora eu ainda ache que Pitt tenha se desvirtuado do ótimo caminho que ele vinha traçando com Fight Club, Snatch, etc.

Mesmo com ótimos efeitos visuais,  o filme em si não justifica tanto o fato de ser o filme de zumbis mais caro de todos os tempos. Ok, não tivemos filmes espetaculares de zumbis, mas enfim. Além disso, muito desses milhões gastos vêm do fato de mais de quarenta minutos do filme terem sido regravados em virtude de inconsistências no final. Gostaria muito de ver essa justificativa em extras do Blu-ray, além das "brigas" entre Pitt e o diretor Marc Forster (claro que isso será quase impossível de aparecer, infelizmente).

De qualquer forma, pela deixa do final, é bem possível que teremos uma sequência. É esperar pra ver.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Farrapo Humano (Lost Weekend) e Smashed


A comparação é tão somente por conta das histórias similares: o alcoolismo e seus efeitos devastadores.

Pois bem, "Farrapo Humano", de Billy Wilder, é um grande clássico do cinema, e opta por fazer uma desconstrução do personagem principal - Don Birman -, um escritor em crise, sem ideias para seu livro e, tampouco, com projeções para a sua vida, além do próximo copo de whisky. Porém, em um final de semana, ele terá de se confrontar com seus demônios e descer até o fundo do seu vício.

O filme retrata muito bem o desmoronamento moral do protagonista, com sua incessante incapacidade de se livrar do vício, suas recaídas, etc. Além de tudo isso, a construção do mise-en-scène é fenomenal: a música perturbadora, além da expressão sempre caótica do personagem nos fazem afundar em sua degradação.

Por outro lado, "Smashed", ainda inédito no Brasil, dirigido por James Ponsoldt e protagonizado por Mary Elizabeth Winstead, mostra, em três atos, o vício da personagem principal (Kate) pelo álcool. Ela é casada com Charlie, também alcoólatra. Ao ver do casal, tudo parece decorrer de forma "normal" até que Kate vomita na sala onde ministra aulas para crianças, em virtude da sua ressaca. Inventa mentiras. Entretanto, buscando um pouco de refúgio, começa a ir em um grupo de AA sugerido por um colega do trabalho.

Esse segundo ato, da luta da protagonista contra o alcoolismo, é muito superficial, entretanto. Muito embora ela ainda more com Charlie, que continua com o seu vício, Kate só tem uma recaída, por conta de um fato específico e não por conta do caos da falta do álcool em seu corpo na rotina do dia a dia. O terceiro e derradeiro ato mostra como o vício corrói o relacionamento dos personagens.

Assim, se "Farrapo Humano" é essencial, obrigatório, "Smashed" é apenas mais uma opção.


Farrapo Humano


Smashed