sábado, 16 de junho de 2012

Apenas uma Noite (Last Night)

A ruína de um casamento, traições, disfarces e antigas paixões que retornam são alguns dos temas abordados pela iraniana Massy Tadjedin, que estreia na direção de um longa americano com uma história própria no drama "romântico"  Apenas Uma Noite, má tradução do título em inglês (Last Night), como veremos.

Moradores de Nova York, a escritora Joanna (Keira Knightley) e o executivo Michael Reed (Sam Worthington) são casados há três anos, mas namoram desde os tempos de faculdade. No começo do filme, somos divididos, de forma intercalar, pela cena em que ambos estão voltando de taxi para casa, depois de terem ido a uma festa, cada em seu lado, presos em seus pensamentos e angústias, e o momento no qual se preparam pra ir à dita festa e como se comportam na mesma.

Na cena em que ambos estão ainda em casa, se arrumando para a festa, percebemos um certo descaso de Michael e algum distanciamento de Joanna. Ele até mesmo esquece o vinho dentro do taxi que os levava para a festa. Por qual motivo? Estaria ele pensando demais em como se portaria no encontro?

Bem, já na festa, Joanna conhece Laura (Eva Mendes), uma sensual colega de trabalho do marido, e imagina que há alguma coisa acontecendo entre os dois, até mesmo por flagra ambos conversando na varanda do prédio com certa intimidade. Como Michael e Laura farão uma viagem de trabalho no dia seguinte, e já haviam viajado antes juntos, a noite de sua véspera é de conflito, com Michael caindo na "armadilha" de Joanna, ao afirmar que, de fato, sentia atração por Laura. Com isso, Joanna acaba dormindo no sofá. No meio da madrugada, Michael vai até ela e propõe que ela volte para o quarto. Ela recusa. Então, ele a convida para comer algo na cozinha.

De manhã, a própria Joanna acha que está exagerando - talvez por tentar encontrar motivos para brigar, típico de um relacionamento em ruínas - e firma uma trégua com Michael. Depois que ele parte, ela vai tomar café na rua e, ao sair do café, dá de cara com um antigo e complicado amor do passado recente, o francês Alex (Guillaume Canet). Aqui, o encontro foi muito forçado e poderia ter sido mais sutil.

Ele a convence a ir em um jantar com ele no mesmo dia, sem muito esforço. O jantar marcado para essa noite, que leva Joanna a arrumar-se como nunca, desperta outras expectativas. Alex, por sua vez, não atravessou de volta o Atlântico à toa. Está disposto a confrontar Joanna sobre o que deu errado para eles. Mas seria apenas isso? Ele havia voltado por ela, por compromissos profissionais, porque seu relacionamento com uma pessoa em Paris não ia bem ou porque não conseguia ficar sozinho?

Além disso, os questionamento de Joanna naõ se limitam apenas ao casamento e ao seu amor por Alex, mas também às suas criações literárias, sobre as quais pairam dúvidas intermitentes.

O filme evolui sobre essas duas tentações em paralelo: a de Michael por Laura e a de Joanna por Alex, procurando criar expectativa sobre se vai ou não haver traição em qualquer dos casos. Entretanto, é difícil contemplar química sexual nos casais de "amantes". Michael não consegue demonstrar muitas emoções com Sam Worthington o interpretando, da mesma forma como Alex não consegue ser o francês sedutor. Mas, com certeza, não vemos química alguma entre Laura e Michael, o que deixa a relação deles aquém até mesmo do apelo sexual.

Entretanto, mesmo no papel mais ingrato dos quatro protagonistas, Eva Mendes consegue ser um pouco mais eficiente que os demais, ao tentar fugir do estereótipo de latina sensual que a toda hora tentam lhe atribuir.

Um bom momento está na participação de Griffin Dunne como uma espécie de conselheiro da dupla Joanna/Alex. Enquanto ele fica em cena, a cota de humor e inteligência sobe um bocado, muito embora, mais uma vez, falte sutileza no encontro entre os casais.

Em geral, não é um filme muito necessário, a não ser pela bela fotografia de Nova York, da boa edição de som e trilha sonora, que consegue nos situar na angústia dos personagens, muito embora os mesmos não consigam demonstrar tanto disso em cena, embora necessário fosse. A noite como personagem também é um ponto bem pensado, com praticamente todas as cenas sendo pouco iluminadas. O que sobra nesses quesitos técnicos, falta no frecor da interpretação dos personagens.

Por fim, as traduções de títulos para o português deveriam se ater literalmente aos títulos originais ou mantê-los (caso de Drive e Shame, recentemente). Apenas uma noite é bem diferente de A noite passada (tradução literal de Last Night), que traduz melhor os anseios da história.

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