quarta-feira, 27 de março de 2013

Corporativo

Tensão.
Ansiedade.
Depressão.
Fobia Social.
Uma vida que não foi.

Mundo corporativo.

Mundo selvagem.
Caos de terno e gravata.
Caos do salto alto.
Uma vida que se foi.

Internet. E-mails.

Blackberry e iPhones.
Reuniões estratégicas.
Conferences.
O telefone que não para.
Gritos. Adrenalina. Derrota.

Salários milionários.

BMW e Mercedez.
Roupas de grife.
Extravagância.
Arrogância.
Vaidade.

Nâo há tempo pra nada.

Tudo é pra agora.
Tudo é urgente.
Por quê?

Vida corpor-inativa.

Vida selvagem.
Vida que não vi da janela fechada.

Os caçados

Na última sexta-feira, dois filmes muito bons estrearam nos cinemas de São Paulo - claro que sem a divulgação e número de salas de exibição que mereçam - "A Caça", de Thomas Vinterberg e "Depois de Lúcia", de Michel Franco.

Vendo os dois, o que mais interessa não é traçar um estudo pormenorizado do ponto de vista técnico cinematrográfico dos mesmos.

Disso já há aos montes por aí - inclusive, uns de linguagem quase que ininteligível para o espectador comum. Críticas herméticas, infelizmente, ainda dominam o cenário.

Críticos que escrevem para críticos.

Penso que talvez seja um pouco mais importante escrevermos uma crítica sem o "cinematografês" que domina esses textos. Isso afastas um pouco as pessoas, da mesma forma que o "juridiquês" afasta aqueles que não são iniciados nas ciências curídicas.

Eu, como advogado, sou totalmente contra ao uso de termos específicos e técnicos de forma geral.

Mas enfim, dada essa premissa, vamos aos filmes:

Depois de Lúcia é um filme sobre o bullying. Após um acidente que vitimou faltamente sua mãe, Alejandra e seu pai resolvem se mudar de cidade para superarem o drama. Em uma nova cidade, uma nova escola. Alejandra é totalmente sociável e desde logo acaba se relacionando com a maioria das pessoas da sua sala, sem nenhum problema.

Porém, numa viagem com a turma, Alejandra, já alcoolizada, transa com um dos meninos. Porém, com um grande erro. O menino resolve filmar a transa. O vídeo vaza para a escola inteira.

Alejandra agora é a puta, ainda mais quando o menino com quem transa é objeto de desejo de outras garotas do colégio.

Ela vira a caça e, vítima de um bullying grotesco, tem seu cabelo cortado, é infernizada na sala de aula e, no seu aniversário, acaba sendo forçada a comer um bolo de merda - literalmente, em uma cena muito complicada de assistir.

Mas, em que pese a crueldade e a desumanidade, em especial da juventude da classe alta, também é de se questionar a total falta de combatividade de Alejandra, que acaba aceitando viajar com seus "colegas" de escola em uma viagem para a praia - lá ela é estuprada e passa todos os horrores possíveis e impossíveis de serem imaginados.

Mas quem já sofreu bullying, sabe que não somos complascentes com a situação. Se não temos força pra lutar, ao menos tentamos de toda maneira possível evitar o contato com as pessoas que nos atormentam.



A outra caça é a de Lucas - personagem interpretado pelo mais que brilhante Mads Mikkelsen. Ele, que cuida de crianças no jardim de infância, acaba sendo acusado de abuso sexual pela filha de seu melhor amigo. A filha, que havia desenvolvido um amor até paterno por Lucas - haja vista que ele sempre estava lá enquanto o pai não estava - acabou confundindo seus sentimentos.

A acusação virou uma bola de neve - com milhares de pré-julgamentos. Afinal, as crianças nunca mentem.

Ele foi acusado de pedofilia, foi demitido da escolinha e começou a ser perseguido. Ninguém acreditava nele, salvo um amigo e seu filho. Ele chegou ao fundo, mas nunca desistiu de lutar. Talvez o que diferencie Lucas de Alejandra é justamente o fato de Lucas não ter desistido de provar sua inocência.

Porém, o preconceito das pessoas é resistente.

Por fim, talvez haja muito o que ser conversado entre Alejandra e Lucas.