terça-feira, 24 de julho de 2012

Drive - de Incubus a Nicolas Winding Refn e Ryan Gosling

Quem me conhece, sabe o quanto gosto da banda Incubus e de como a música Drive - do álbum Make Yourself, de 2002 - é a minha preferida, até mesmo por ter sido a primeira que eu escutei deles. Música que escutei pela primeira vez em 2004 e que, desde então, nunca saiu do iPod.

A letra e toda a construção musical, com a voz de Brandon Boyd e Mike Einziger na guitarra, fizeram-me descobrir todo um universo musical - rock alternativo dos anos 2000 - que estava por vir. Inquestionavelmente, o videoclipe é também de uma beleza e sutileza ímpar. 

O ano de 2004 também foi um ano marcante na minha redescoberta do cinema, com a minha releitura sobre o quão influenciável era a 7ª arte pra mim. Então com 19 anos, naquele ano senti que descobri o cinema de verdade e que havia aberto os olhos para algo que desde então passou a ser um dos grandes caminhos da minha vida.

E esses caminhos acabaram me levando a uma sala de cinema - MK2 - em Paris, com a minha namorada, no primeiro dia deste ano, para assistir Drive, dirigido por Nicolas Winding Refn (ganhador do prêmio de direção em Cannes pela obra) e estrelado por Ryan Gosling no papel do Motorista. Quem também me conhece, assim como sabe que Drive, a música, tem grande impacto pra mim até hoje e sempre terá, sabe também que Drive, o filme, causou um tornado avassalador dentro de mim e já está pra mim em várias das minhas listas de Top Top de filmes.

No filme, que conta com uma das melhores trilhas sonoras que eu já ouvi (com Cliff Martinez assinado a maioria delas, mas tendo o grande ápice com Nightcall do Kavinsky e Lovefoxxx), Gosling faz o melhor papel de sua carreira, como um personagem que alterna seus trabalhos de dublê com os de motorista em assaltos, com incrível habilidade, sem participar diretamente dos atos e sem pegar em armas 

"I don't carry a gun. I drive".

Assim como em Drive, a música, o Motorista de Drive, o filme, deixa que o volante guie seu medo, suas incertezas e sua vida, sabendo que, o que quer que o amanhã traga, ele estará lá de olhos bem abertos, conduzindo-se e alcançando sua luz (ou não?), traçando um breve paralelo com a letra da música, mas sem sugerir que a música poderia ser utilizada no filme, o que eu não acho que seria possível, pois a temática de ambas as obras é diferente.

Sometimes I feel the fear
Of uncertainty stinging clear
And I can't help ask myself how much
I'll let the fear take the wheel and steer (...)
Whatever tomorrow brings I'll be there
With open arms and open eyes (...)
But lately I'm beginning to find that
When I drive myself my light is found

Finalmente, o que quis aqui foi apenas homenagear essas duas obras que me marcam tanto. Porém, não sou insensato e, obviamente, trabalharei ainda mais em meus posts com o filme Drive, traçando seus paralelos com Sam Peckinpah, Marcas da Violência de David Cronenberg e Old Boy de Chan-wook Park.

Abaixo, deixo o videoclipe de Drive do Incubus, bem como o trailer de Drive, do Nicolas e Ryan.




quinta-feira, 12 de julho de 2012

Mostra - Georges Méliès, mágico do cinema (MIS)


Um dos grandes pais do cinema, ao lado dos irmãos Lumiére, pelo menos do que se há registro, foi escolhido como homenageado de uma exposição no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. Georges Méliès, mágico do cinema vai remontar a trajetória do artista cujas invenções transformaram e expandiram a sétima arte (considerada desse forma por ser a junção de todas as demais artes).


A mostra, produzida pela Cinemateca Francesa, reúne uma coleção rara do cineasta que é conhecido como “pai dos efeitos especiais” - ele realmente trabalhava como mágico e levou suas técnicas ilusionistas às telonas, o que impressiona, dado que fora realizado no início do século passado. A criatividade utilizada por Méliès é altíssima!

Entre os anos de 1896 e 1912, Méliès foi responsável por mais de 500 filmes, sendo alguns clássicos, como A Viagem à Lua, de 1902, que na exposição é exibido dentro de uma nave inspirada na ficção científica. Esse filme, por sinal, inspirado nos contos de Júlio Verne, guarda grande relação com a história da época em que fora idealizado: a presença de habilitantes na Lua, tratados como um povo primitivo e violento e que precisam ser derrotados através da luta armada remonta à época da colonização.

Além da exposição, uma oficina vai proporcionar aos visitantes a experimentação de Méliès com uma instalação na qual grupos de até oito pessoas poderão criar seus próprios filmes de até 30 segundos, explorando a imaginação e as técnicas do mágico. O ingresso para a instalação custa R$ 10.

Georges Méliès, mágico do cinema
De 4 de Julho a 16 de setembro de 2012
Museu da Imagem e do Som de São Paulo - Avenida Europa, 158 – Pinheiros – São Paulo
Horário: Terças a sábados, das 12h às 21h; domingos e feriados, das 11h às 20h
Ingresso: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia) / Terça: Gratuito.

Abaixo confiram  "A viagem à Lua", um dos clássicos de Georges Méliès.



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Uma garota dividida em dois

Charles (François Berléand) é um premiado escritor de meia-idade, não especialmente bonito mas cercado de mulheres deslumbrantes, desbravador sexual. Já o jovem Paul (Benoît Magimel), de franja moderninha e queixo quadrado de galã, foi negligenciado pela mãe quando criança e vive à sombra do pai morto e milionário. São dois opostos, enfim. O intelectual e o sanguíneo, o velho e o novo, o casado e o solteiro, o amante bem resolvido Charles e o emasculado Paul.

Quem tem que escolher entre um e outro, como já adianta o título do novo filme do mestre francês Claude Chabrol, Uma Garota Dividida em Dois, é a bela Gabrielle (Ludivine Sagnier, de Swimming Pool). Garota de tempo de uma emissora de TV, dá pra ver pela cara dela que a moça vai subir rápido na carreira. Paul se apaixona à primeira vista, assim como Gabrielle rapidamente se deixa levar pelas frases feitas de Charles. O número de ilusionismo da bela cobaia serrada ao meio é a perfeita imagem poética do que Gabrielle vai enfrentar.

Como sempre um arguto cronista da sociedade, que não se furta a usar do humor visual mais sarcástico, como nos close-ups que dá na mãe de Paul, Chabrol comenta as castrações e as liberdades na alta roda pensante francesa em torno desse "mistério da humanidade que é a sexualidade", como define Charles.

Aos poucos o filme adiciona mais características, além daquelas primeiras, à polarização entre o escritor e o playboy. Entrega versus mentira, conhecimento versus conforto. São dois mundos que, de fato, não se conciliam. De um lado Charles diz, com a maior naturalidade, que não pode se divorciar da esposa porque "não tem nada contra ela", uma visão mais do que libertadora de uma instituição-clausura como o casamento. Do outro, por sua vez, Paul se inflama porque acredita no casamento em seu estado mais primal, tal o rito do sacrifício de uma virgem.

No fundo há em Uma Garota Dividida em Dois uma crítica ao conservadorismo cego de Paul e uma evidente simpatia pela permissividade sexual de Charles, mas ambos os lados têm seus momentos de cruel pragmatismo. E Chabrol, como todo grande cineasta francês, sabe sintetizar no rosto puro de Ludivine Sagnier esse universo de questões.

Retirado de Omelete



domingo, 8 de julho de 2012

Até a Eternidade


O ator Guillaume Canet, que atuou recentemente do longa Apenas uma noite, assina a direção e o roteiro de  Até a Eternidade (Les petits mouchoirs no título original), trama sobre um grupo de amigos que se reúnem para férias à beira-mar, enquanto torcem pela recuperação de outro que está hospitalizado.

A primeira cena mostra Ludo (o ótimo Jean Dujardin, antes de ganhar o Oscar por O Artista) saindo de uma balada já pela manhã e, antes mesmo do fim dos créditos iniciais, sua moto já está debaixo de um caminhão e ele no hospital - a cena é muito bem construida e surpreende bastante. O acidente é um catalisador para o reencontro de um grupo de personagens que, apesar do acontecido, resolve manter as férias habituais na casa de um deles - Max (François Cluzet, de O último caminho, e que lembra um pouco Dustin Hoffman pela aparência).

Aos poucos e sutilmente, os personagens mostram as suas caras, ganham identidade e a simpatia do público – especialmente porque não são clichês ambulantes, são gente de carne e osso, com medos, ansiedades, inseguranças e desejos. Não simbolizam uma virtude ou um defeito, mas conseguem reunir qualidades e falhas. A tragédia começa a intercalar muito momentos com a comédia. Ao mesmo tempo que rimos em vários momentos, não conseguimos esquecer que Ludo ainda continua muito mal no hospital.

Max (François Cluzet, de O Último Caminho) é um rico dono de hotel que tenta não se incomodar com as investidas do amigo Vincent (Benoît Magimel, de Uma Garota Dividida em Dois), que anda confuso com sua sexualidade.

Marie (Marion Cotillard, de Meia-noite em Paris) também tem dúvidas sobre quem, como ou se deve amar. Já Éric (Gilles Lellouche), mulherengo inveterado, gosta de manter uma namorada, só por garantia. E Antoine (o comediante Laurent Lafitte) fica esperando que sua Juliette (Anne Marivin) perceba a bobagem que fez ao terminar o relacionamento deles.

É esse cuidado com os personagens que mais encanta no drama de Canet, que trata a todos com dignidade. Há uma harmonia no elenco que faz com que todos estejam no mesmo patamar.

Marion, que divide sua carreira entre filmes nos EUA (A Origem,  Nine) e Europa (como o recente De Rouille et D’os), é uma presença luminosa aqui, enquanto Dujardin passa praticamente todo seu tempo em cena na cama de um hospital e com maquiagem pesada, por conta do rosto desfigurado com o acidente. Particularmente, gostaria de ter visto mais tempo dele em cena.

A longa duração de Até a Eternidade (mais de duas horas) não incomoda em nenhum momento, pois há muita força dos personagens e uma bela trilha sonora, mesclando clássicos dos anos 1970 (como Janis Joplin e The Weight) e músicas contemporâneas.

O filme estreiou apenas em São Paulo e apenas em uma sala - no Espaço Itaú do Shopping Frei Caneca.




domingo, 1 de julho de 2012

Para Roma, com Amor

Para Roma Com AmorPara Roma, com Amor, novo filme de Woody Allen, é inspirado no Decamerão, coleção de cem novelas escritas por Giovanni Boccaccio entre 1348 e 1353. A narrativa é composta por quatro histórias "paralelas" que envolvem traição e fama. O longa é repleto de referências e cópias de personagens e tramas presentes em longas não só de Allen, mas também do cineasta italiano Federico Fellini

O triângulo amoroso formado por Jack (Jesse Eisenberg), Sally (Greta Gerwig) e Monica, uma dita femme fatale (mas interpretada por Ellen Page, convenhamos que não é muito plausível) é interferido por John (Alec Baldwin) - que atua como a subconsciência de Jack, ou apenas um espectro, ou seria Jesse a versão juvenil de John? -, prevendo o envolvimento do jovem com a amiga de sua namorada Sally.

Aqui fica tudo muito parecido com Igual a Tudo na Vida, pois os personagens de Eisenberg e Page são similares ao casal Jerry (Jason Biggs) e Amanda (Cristina Ricci). Ele, um jovem com suas aflições e inseguranças; ela, uma jovem atriz vulnerável, tempestuosa e incontrolável.

Outra trama envolve um casal recém casado do interior, que chega na cidade para tentar se estabelecer; a história é cópia adaptada do filme O Abismo de um Sonho, de Fellini. As semelhanças nas tramas e nos personagens são muito perceptíveis. A traição na obra de Allen é mais incisiva que no original de Fellini, com interferência da oscarizada Penélope Cruz, como Anna. Infelizmente, os personagens de Cruz e Baldwin, mesmo tendo um papel importante em seus segmentos, não têm finalizações, ficando perdidos na ação. Baldwin, por exemplo, inicia o filme em uma mesa com sua mulher e amigos, e depois se limita a ser um personagem "sombra" na história entre Jack, Sally e Monica. Por outro lado, mesmo estando muito bem, não entendo o porquê de se escolher uma atriz espanhola - Cruz - para interpretar uma mulher italiana, se poderia ser aproveitada a ocasião pra se escolher uma atriz italiana para o papel - Monica Belucci, talvez.

O italiano Benigni faz sua participação em um segmento, que tem como tema a fama súbita. O desenrolar de sua história é a que mais se aproxima do universo do diretor. Trata-se de um homem normal que da noite para o dia vira celebridade. Esta narrativa é uma crítica às convenções de consumo e das celebridades instantâneas que não tem nada a dizer nem um talento considerável para a fama. E em contraponto a esta história, um casal e suas famílias: de um lado a turista americana Hayley (Pill) e de outro o italiano Michelangelo.

A família de Hayley é composta por um diretor fonográfico aposentado (Allen) e por uma psiquiatra niilista (Davis). Já os pais do noivo são um casal simples, tendo o pai um talento nunca explorado. Os diálogos e circunstâncias desta parte da narrativa são levados aos absurdos que só Woody é capaz de levar para as telas. Os conflitos e situações de extremos são típicas do diretor em todo o longa. Mas também é possível encontrar muitos diálogos, frases e ações já visitadas por ele. Seu alter ego (sempre presente em seus filmes), incorpora os demais personagens.

A falta de relação entre os segmentos acaba deixando o filme bem chato de se acompanhar depois de algum tempo. As histórias, em tese, deveriam se passar no mesmo espaço de tempo, mas enquanto a história do casal italiano se passa em um longuíssimo dia, os segmentos dos personagens de Benigni, Eisenberg, Page, Allen e Baldwin se passam em alguns dias, talvez semanas. Essa falta de sincronia no tempo nos afasta ainda mais do desenvolvimento das narrativas.

Além disso, se o título do filme nos remete a uma homenagem a Roma, tal como fora feito em Meia-noite em Paris, essa homenagem contempla críticas - vide a da criação de celebridades pela mídia, apenas para ter o que falar, assim como acontece em BBBs e congêneros - que não sabemos se a intenção é remetá-las tão somente para Roma e seus habitantes ou se de uma forma geral.

Depois de seis anos sem atuar em seus filmes - a última vez foi em Scoop - o seu retorno foi infeliz. Nesse curto espaço de tempo ele fez filmes muitos bons (Vicky, Cristina, Barcelona e Meia-noite em Paris), em que as cidades-personagens ganharam homenagens muito especiais.

Mas isso não se repete em Para Roma, com Amor, que, diante da filmografia de Woody Allen, é muito irregular, pra não dizer ruim.