domingo, 30 de junho de 2013

A Espuma dos Dias (L'écume des jours)

Baseado no livro de Boris Vian, o filme de Michel Gondry, com elenco francês, contando com Romain Duris, Omar Sy e Audrey Tautou, se perde no impressionismo exagerado que toma o lugar da história, muito bonita por sinal: 

Colin (Romain Duris) é um homem rico e despreocupado, que nunca precisou trabalhar. Tímido, ele nunca teve muito sucesso com as mulheres, até ser apresentado a Chloé (Audrey Tautou) durante uma festa. Apesar de um primeiro encontro desastroso, os dois se apaixonam e se casam. O casal está sempre cercado pelos amigos Nicolas (Omar Sy), um cozinheiro talentoso, Chick (Gad Elmaleh), um intelectual pobre e fascinado pelo filósofo Jean Sol-Partre (!!!), e a extrovertida Alise (Aïssa Maïga). Tudo caminha bem, até o dia em que Chloé é diagnosticada com uma doença rara: ela tem uma flor de lótus crescendo dentro do seu pulmão. O caríssimo tratamento exige o uso de diversos medicamentos e a aplicação de centenas de flores, levando Colin à falência, e a amizade do grupo à crise.

Embora dê o entendimento de que o filme vai no mesmo caminho do excepcional "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", "A espuma dos dias" se desvirtua, se perde no caminho de seus delírios surreais e, por isso, é uma das maiores decepções do ano, infelizmente.


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Aqueles que ficaram (Ceux qui restent)


Os Cine Clubes nos proporcionam ótimas oportunidades de conferir filmes que não estrearam por aqui em grande circuito. "Aqueles que ficaram" é um ótimo exemplo.

Assisti esse filme em 2010, salvo engano, em uma Mostra do então Espaço Unibanco da Augusta, referente a novas diretoras francesas  e tive a oportunidade de revê-lo no Cine Clube da Reserva Cultural, em parceria com a Aliança Francesa. 

A diretora, Anne Le Ny, é muito mais conhecida pelos seus trabalhos como atriz (destaco aqui "Intocáveis" e "A Guerra está declarada"), porém realiza um ótimo trabalho de direção em "Aqueles que ficaram" - seu primeiro, é bom destacar, além de marcar presença como a irmã do protagonista Bertrand, vivido pelo magistral Vincent Lindon.

Emmanuelle Devos também está impecável no papel de Lorraine, que ao lado de Bertrand, sofre por ter um ente querido com câncer. É uma película muito delicada que busca trazer a tona o sofrimento daqueles que tem que acompanhar o  lento sofrimento e degradação de alguém tão próximo. 

Como abrir mão de sua própria vida para cuidar de alguém? Essa e muita obras perguntas são ressaltadas nesse excelente filme.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Antes da Meia-Noite (Before Midnight)


O terceiro e talvez último filme (rezemos que não!) relativo à vida dos amantes Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) não poderia ser tão bem acabado. Se no primeiro (Antes do Amanhecer), a dupla se encontra por acaso na Europa, se apaixonam, mas acabam seguindo caminhos diferentes após uma noite em Viena, em virtude de ele morar nos Estados Unidos e ela na França, no segundo (Antes do Pôr-do-Sol), Jesse e Celine estão nove anos mais velhos, na casa de seus trinta anos, e acabam se encontrando em Paris, selando seu amor, conforme depreendemos em "Antes da Meia-Noite", que se passa nove anos mais tarde, dezoito anos depois do primeiro encontro no trem.

Bom que se saiba que o todo esse tempo decorrido na história deles é "real". Explico: o primeiro filme foi lançado em 1995, o segundo em 2004 e o terceiro em 2013.

Bem, Jesse e Celine estão juntos e têm duas lindas filhas. Ele, um escritor bem sucedido, dividido entre sua família em Paris e seu filho do casamento anterior, que mora em Chicago. Ela, uma defensora do meio ambiente, envolvida com uma nova proposta de emprego.

O filme busca mostrar sua relação, seus conflitos, abordando assuntos típicos de quem está na casa dos quarenta anos, em um relacionamento estável e com filhos. Os diálogos incessantes e intensos tem agora lugar na Grécia, uma das grandes vítimas da crise econômica que assolou o mundo, porém palco também do nascimento da filosofia, da discussão e da busca de conhecimento.

Como disse, um grande filme, com atuações e  direção (de Richard Linklater) muito seguras. O roteiro assinado por Ethan Hawke, Julie Delpy e Richard Linklater deixa transparecer as suas angústias com sacadas inteligentíssimas. Costumo qualificar essa trilogia como sendo a "Trilogia da Vida", pois, envolto ao amor e à relação dos dois, nos vemos bombardeados por muitos questionamentos que fazemos em nossas próprias vidas, nos aproximando muito daqueles dois personagens.

Para ver e rever sempre!

sábado, 15 de junho de 2013

A vida privada das árvores - Alejandro Zambra

Fonte: http://www.livrosabertos.com.br

Tal como ocorre em Bonsai, em A vida privada das árvores as plantas constituem, mais do que belos elementos de cenário, metáforas fundamentais para a compreensão do enredo. Se no primeiro livro um bonsai simboliza tanto uma relação amorosa quanto uma das possíveis maneiras de pensar e escrever ficção, aqui, neste segundo romance de Alejandro Zambra, o álamo e o baobá, personagens de histórias contadas a uma criança, aludem à passividade, à imobilidade e à sensação de permanência.

É possível questionar se Julián, o protagonista de A vida privada das árvores, não seria o autor fictício de Bonsai. Professor de literatura e escritor, Julián confessa a amigos que “se alguém lhe pedisse para resumir seu livro [sobre o qual se debruça, e que depois finalmente conclui], provavelmente responderia que se trata de um homem jovem que se dedica a cuidar de um bonsai”. O romance que Julián conclui é minúsculo, assim comoBonsai. Julián não se chamou Julio por um erro do oficial do registro civil — e Julio é o nome dado ao protagonista de Bonsai.

Outra semelhança entre os dois primeiros livros de Zambra — o terceiro, ainda não traduzido e publicado no Brasil, chama-se Formas de volver a casa — está na temática. Quem não vê com bons olhos a literatura que se ocupa da literatura deve fugir de ambos. As relações amorosas, vínculos normalmente frágeis para o autor chileno, ganham novo trato. O tempo e nossa forma de senti-lo, a solidão e a mediocridade — ou impossibilidade, ou vazio — da vida frente à ficção são outros conceitos revisitados em A vida privada das árvores.

Verónica, mulher de Julián, não volta para casa após a aula de desenho. O narrador avisa que “o livro segue em frente até ela voltar ou até Julián ter certeza de que ela não voltará mais”. O nervosismo do protagonista aumenta na medida em que as horas passam e a madrugada avança sem que haja sinal de Verónica. Durante a espera aflita, em duas ocasiões Julián conta histórias para fazer Daniela, sua enteada de oito anos, dormir. O conteúdo das narrativas é o mesmo: a vida do baobá e do álamo, árvores que, estando lado a lado, trocam confidências entre si. É este tempo que se encontra suspenso — o que dura a expectativa, a dúvida, a angústia — o presente do romance.

O passado também está lá, e toma a forma das lembranças de Julián: seu antigo relacionamento com Karla, que terminou com o afastamento do casal; o primeiro casamento de Verónica, com o pai de Daniela, que durou três meses; sua infância mais ou menos tranquila, sem grandes alegrias nem tragédias. O futuro também é vislumbrado: decidido a ignorar o presente aflitivo, a escapar da ansiosa espera pelo retorno da mulher, Julián imagina a enteada já adulta. 

Há um enorme e real vazio em A vida privada das árvores: caminhos que não seguiram e não seguem o curso planejado ou esperado, personagens que não são capazes de recordar com exatidão a própria trajetória — que não veem, ou não querem ver, uma ligação óbvia entre passado e presente —, relacionamentos insatisfatórios e frágeis que não trazem alívio para solidão. É de uma realidade rotineira e medíocre de que se ocupa a ficção de Alejandro Zambra, e é justamente aí que está o seu mérito. Tudo em Zambra, seja em Bonsai ou em A vida privada das árvores, é comum, possível, banal. Enquanto, assim como o álamo e o baobá, Julián talvez esperasse fincar raízes e permanecer ao lado de alguém, fosse em uma relação de amor ou amizade, ele parece condenado à insatisfação e à busca constantes. Assim como a maioria das pessoas, Julián tem apenas uma característica em comum com as árvores: a imobilidade, a inércia, a capacidade de se mexer apenas pela mudança e pela força dos ventos.

“Seria preferível fechar o livro, fechar os livros, e enfrentar, sem mais, não a vida, que é muito grande, mas a frágil armadura do presente”, diz o narrador. Como poucos autores, contemporâneos ou não, Zambra soube pôr luz exatamente nas zonas em que a vida se assemelha e se diferencia da ficção — e, ao mesmo tempo em que a vê como uma tábua de salvação, também ressalta sua inutilidade. Seus dois primeiros livros são breves; a sensação de incômodo e desconcerto é que é persistente.

Golpe de Misericórdia - Marguerite Yourcenar

Golpe de Misericórdia é um curto romance que se desenrola na esteira da guerra de 1914 e da Revolução Russa. Escrito em 1938, inspirado numa ocorrência autêntica, o assunto do livro, segundo Yourcenar, está muito próximo de nós “porque a desordem moral que ele descreve permanece a mesma em que fomos e estamos cada vez mais mergulhados”. Este romance com fortes inclinações para a tragédia, desenvolve-se num lugarejo denominado Kratovice, um rincão obscuro dos países bálticos, isolado pela revolução e pela guerra. A historia de amor entre três protagonistas, “um quase puro conflito de paixões e de vontades”, é narrada na primeira pessoa, através de Éric Von Lhomond, personagem caracterizado pela lúcida rispidez, e o tema central é “antes de tudo a comunidade de espécie, a solidariedade de destino entre três seres submetidos as mesmas privações e aos mesmos perigos”.

Ótima dica!

Segredos de Sangue (Stoker)

Tive algumas expectativas com relação a "Segredos de Sangue", justamente por ser dirigido por Chan-wook Park, do fantástico e violento Oldboy. Toda a estética e estilo caracterizados neste filme em nada remete a Segredos, nessa primeira tentativa do diretor na indústria de Hollywood.

Mesmo com duas atrizes de muita qualidade (Nicole Kidman e Mia Wasikowska), o filme não engrena. O roteiro gira em torno da aparição do tio de India Stoker no enterro do irmão, pai de India. O tio até então desconhecido pede por um tempo com elas em sua casa, haja vista estar voltando de uma viagem pela Europa.

Segue-se com o envolvimento do tio do núcleo familiar alterado pela ausência do pai e a ocorrência de muitos eventos estranhos, os quais, somados, deveriam levar a uma catarse que, ao final, mostra-se muito insatisfatória. A estética da violência de Park respira em pouquíssimo momentos, os quais nem acabam se tornando tão impactantes ou memoráveis quanto os de Oldboy.

Em suma, uma experiência cinematográfica bem vaga.


sexta-feira, 14 de junho de 2013

O Grande Gatsby (2013)

Podem falar que é muita purpurina, que é muito kitsch, que vulgariza a história criada por F. Scott Fitzgerald. Nada irá alterar a minha percepção sobre o filme, o qual, em 3D ou 2D, tem muitas qualidades.

Além da interpretação impecável de Leonardo DiCaprio (mais uma) e as boas presenças de Carey Mulligan e Tobey Maguire, o filme inova e arrisca ao propor uma trilha sonora reinventada para o contexto da época. Sai o Jazz, entra o Rap e outras cerejas desse ótimo bolo (Florence + The Machine, Lana Del Rey e The xx).

Os figurinos são ótimos, além da fotografia quase impecável. Mesmo o início um pouco mais lento não é um ponto negativo, haja vista a necessidade desse prelúdio até a grande aparição de Gatsby. Baz Luhrmann volta a fazer um filme muito bom - sim, eu gostei bastante de Romeu + Julieta.