terça-feira, 8 de outubro de 2013

Essential Killing

Um homem, talvez afegão, interpretado por Vincent Gallo é apanhado pelo exército americano em um deserto não especificado, talvez Afeganistão, após ter assassinado 3 soldados americanos sem misericórdia, e é levado como prisioneiro de guerra para um país da Europa oriental (daqueles que fecham os olhos aos direitos humanos). Ele sofre tortura, mas nada fala e assim prossegue durante todo o filme.

Devido a um acaso, consegue fugir e o filme é isso: a fuga de um homem por uma paisagem cheia de neve, impiedosa, inóspita, quase desabitada. Além do frio e do exército que o persegue, o fugitivo tem que lutar contra a fome e contra quem se lhe atravessa, não hesitando em ir deixando um rastro de sangue pelo caminho, matando de forma essencial - daí o nome do filme.

Vale destacar uma imagem de Gallo buscando o leite de uma mãe, a qual é polêmica e filmada com coragem. E mesmo quando, quase já morto, é encontrado por uma pessoa, entretanto muda, intensificando ainda mais o silêncio.

Não obstante a premissa politica, ‘Essential Killing’ é muito mais um filme de ‘ambiente’, até de suspense , do que de argumento. E muito menos de ‘diálogos’: Gallo não tem uma única fala durante todo o filme, o que não impediu que trouxesse o prémio para o melhor ator do Festival de Veneza de 2011. E Skolimowski trouxe o prémio especial do júri (presidido por Tarantino) para este filme minimalista, mas expressivo e visualmente marcante.

Um grande filme que estreou em São Paulo somente no Cine Olido e já não está mais em cartaz. Uma boa alternativa é buscar via torrent.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Perdão, Leonard Peacock - Matthew Quick

O novo livro de Matthew Quick, “Perdão, Leonard Peacock”, foi lançado em setembro pela Editora Intrínseca. Foi o terceiro livro no Kindle que li, após os dois de Nick Hornby (Alta Fidelidade e Febre de Bola), sobre os quais falarei um pouco depois.

Bem, Quick ficou mundialmente conhecido após a adaptação para o cinema do seu livro “O Lado Bom da Vida”, um livro, digamos, ruim. O filme concorreu a oito prêmios no Oscar, sendo que Jennifer Lawrence ganhou o Oscar de Melhor Atriz e se consagrou definitivamente como a nova "queridinha" de Hollywood (não concordo com a premiação, até porque ninguém que concorra com Emmanuele Rivas - de "Amor" - poderia ganhar).

O personagem que leva o nome do livro, Leonard Peacock, é um rapaz atormentado pelo passado e com segredos profundos e dolorosos. Ele também é o narrador da história, e logo no começo te conta que vai matar o ex-melhor amigo e se matar logo depois com uma arma herdada de seu avô.

Quick tem uma maneira fluida de escrever o texto, o que torna fácil a leitura, muito embora fique realmente entediante às vezes, pois, pelo menos pra mim, parece que Quick gosta de prolongar pensamentos, de forma a tentar dar um ar mais dramático aos mesmos. Não consegue.

O que podemos contar - e que realmente é interessante - é que o autor faz uma dura crítica aos valores dos jovens, cada vez mais consumistas e individualistas e como é difícil ser diferente em uma sociedade em que todos querem ser apenas iguais. “Vocês todos estão usando mais ou menos o mesmo tipo de roupa. Olhem ao redor e verão que é verdade. Agora, imagine que você é o único que não usa uma marca legal. Como isso faz você se sentir? O raio da Nike, as três listras da Adidas, o jogadorzinho de polo em cima do cavalo, a gaivota da Hollister…”, discute uma parte do livro.

O personagem central tem uma perspectiva crítica e irônica sobre aqueles que o cercam. Outro ponto (des)importante do livro são as constantes notas de rodapé, presentes em quase todas as páginas e que, pelo menos uma boa parte delas, poderia ter sido removida. Nelas o personagem faz seus comentários sagazes, ou meramente tolos, das pessoas e situações e também narra acontecimentos passados.

Como dito acima, o livro destila algumas discussões bacanas, quase sempre protagonizadas pelo professor de Leonard, Herr Silverman, mas na maioria das vezes derrapa na obviedade.