quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Humilhação - Philip Roth

"A Humilhação " é apenas o segundo livro de Philip Roth que li, confesso - o primeiro fora "O Avesso da Vida" - mas já me sinto totalmente fascinado pela sua literatura cheia de armas de grande impacto, que nos arremata com seu imenso sarcasmo, ironia e humor, sempre dosado com sexualidade e o vocabulário "pesado", mas de fácil compreensão.

A dor e a angústia da passagem do tempo, aliada à decadência física e mental do personagem, dá o tom do livro, que, embora curto (pouco mais de 100 páginas), nos vislumbra com ataques diretos de digressão, utilizando-se das dicotomias "depressão e felicidade", "otimismo e pessimismo", "prazer e impotência", "vida e morte". E Roth sabe lidar com todas essas mudanças de foco como poucos, dado seu amplo domínio da escrita literária.

O livro começa ecoando as palavras de Próspero, em “A Tempestade”: 

“Findou nossa função. Esses atores, / Tal como eu vos dissera, eram espíritos / Que agora somem sem deixar vestígio.” 

O protagonista, o famoso ator Simon Axler fracassara, justamente no papel de Próspero (e também no de MacBeth) e agora se via incapaz de subir ao palco, “preso no papel do homem que foi privado de si próprio, de seu talento, de seu lugar no mundo, um homem abjeto que não passava do somatório de seus defeitos”.

Ele que atuava por instinto, sem tantas regras e condições, agora, aos 65 anos, pensava demais, havia perdido a espontaneidade. Passa a interpretar com esforço sofrido, o que transparecia para o público. Desiste. Fecha-se por um tempo numa clínica psiquiátrica para não cair na tentação do suicídio. Ao sair, refugia-se numa casa de campo, onde passa o tempo sem fazer absolutamente nada, em quase negação da vida. Até que surge a filha de um velho casal de amigos, “uma combinação mágica de xamã, acrobata e animal” que lhe devolve o ânimo perdido. Saindo de uma longa relação lésbica, ela, 25 anos mais nova, o seduz completamente, fazendo com que se entregue ao novo papel de amante. Isso sem antes ter contato com alguém que mudaria muito sua vida - e a dela própria e de muitas outras pessoas.

Pegeen, a filha do casal de amigos, atravessa uma jornada de redescoberta. Por mais que tenha mais de 40 anos, suas opções ainda não estão muito bem estabelecidas. Aberta assim está às mais variadas experiências - inclusive a de voltar a ser heterossexual.

Axler, então, diante de sua possível salvação, trata de tornar sua amada mais feminina, comprando-lhe roupas e moldando suas atitudes. Com candura de adolescente, tenta convencer os pais, atores frustrados e talvez invejosos de seu sucesso, de que tem as melhores intenções. Porém, a ruína está a apenas alguns passos. Talvez sempre esteve onipresente. Uma jornada sexual tem início e, assim, parece que tudo está cada vez mais próximo do fim.

Ao fim, o que fica é o poético vazio da vida. Quando não temos mais no que nos apoiar e nos sustentar, o que acontece? Talvez sejam questionamentos que o próprio Roth, com quase 80 anos, se faça ao escrever seus novos livros.

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