quarta-feira, 31 de julho de 2013

Hannah Arendt

Margarethe Von Trotta, ao lado, mais uma vez, de Barbara Sukowa, intérprete habitual de seus filmes, como os premiados "Rosa Luxemburgo"  e "Os Anos de Chumbo" se propôs ao desafio de retratar uma das pensadoras políticas mais importantes e influentes do século 20, autora de clássicos como "As Origens do Totalitarismo", Hannah Arendt.


Sem recorrer a um excesso de teorias, o roteiro escolhe como foco um episódio crucial na vida de Hannah. Em 1961, a filosofa alemã, já radicada nos EUA, viaja a Israel para acompanhar um dos julgamentos mais bombásticos de todos os tempos, do carrasco nazista Adolf Eichmann, capturado pelo serviço secreto israelense na Argentina. Seria ele um dos grandes culpados do nazismo ou simplesmente um cumpridor de ordens, um burocrata? Aqui nasce a fonte da tese de Hannah sobre a banalidade do mal.

Bem se nota que o nazismo está no centro das discussões, mas não somente ele. Há também o supostos envolvimento de autoridades judias com o nazismo - tema muito polêmico, mas inevitavelmente discutível. 

Há também, de forma menos lembrada, a questão de seu relacionamento com o mestre e ex-amante Martin Heidegger (Klaus Pohl), filósofo que se filiou ao Partido Nazista em 1933 e nunca se retratou da atitude após o fim da Segunda Guerra - para desgosto de Hannah, que era judia alemã e fugiu do país natal após a ascensão de Hitler ao poder.

Enxergando em Eichmann apenas um burocrata medíocre, como dito acima, cumpridor cego de ordens, recusando-se a ver um monstro de índole diabólica, e não se omitindo em apontar o que considerava como cumplicidade dos chamados Conselhos Judaicos na destruição de sua própria comunidade, Hannah atraiu a fúria dos próprios amigos e dos círculos judaicos. Muitos nunca a perdoaram pela ousadia. Para eles, ela estaria "defendendo" o carrasco, o que sempre negou.

Nada disso abalou a filosofa, que publicou seus artigos na "The New Yorker" - onde também sofreu pressões - e, dois anos depois, um livro que teve grande repercussão, "Eichmann em Jerusalém". 

O filme ressalta a coragem de Hannah que, apoiada por amigos como a escritora Mary McCarthy (Janet McTeer), resistiu, mantendo sua independência de pensamento, ainda que a um alto custo pessoal. 



Sem esgotar a discussão, mas, pelo contrário, alimentando-a para poder gerar posteriores discussões, o filme é, com certeza, um excelente meio de se envolver com a genialidade de Hannah Arendt e tomar partido de seus estudos e pensamentos.


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